sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Gramática Tupi


SÍNTESE DA GRAMÁTICA TUPI
PARA CONSULTA DO ESTUDANTE

SUBSTANTIVOS

Não há artigos e nem distinção de gênero e de número nos nomes. O contexto e palavras auxiliares vão determinar o sentido. Porém, o que é característico da língua é a temporalização do nome. Por exemplo: Oka: casa. Okuera: o que era casa. Okuama: o que será casa.
Gênero: Jaguara: cachorro. Jaguara-mena: cachorro. Jaguara-kunhã: cachorra.
Plural: Pirá: peixe. Pirá-etá: muitos peixes. Pirá-tyba: cardume. Os sufixos –etá (muitos) e -tyba (ajundamento) formam a ideia de plural.
Genitivo: A relação de posse no tupi se dá pela troca de posição entre possuidor e coisa possuída. Por exemplo: A toca (ybykuara) do tatu. Tatu ybykuara. A casa (oka) do menino (kunumĩ): Kunimĩ roka.
Plurifomes: Existe uma classe de substantivos que variam a consoante inicial (prefixo). Por exemplo: Tatá: fogo. Ratá: fogo. Satá: fogo.
A composição é um recurso intrínseco ao tupi. As palavras novas são formadas a partir da junção de vários elementos.

ADJETIVOS

Os adjetivos são invariáveis e pospõem ao nome para qualificá-lo.

itá: pedra tinga: branco itá tinga: pedra branca.
y: rio puku: comprido y puku: rio comprido.
taba: aldeia ybaté: alto tab' ybaté: aldeia alta.
ybaka: céu pyranga: vermelho ybá' pyranga: céu vermelho
ara: dia panema: aziago ara panema: dia aziago

Para dizer “o céu é vermelho”, diga: ybaka i pyrang.

Há perda da última sílaba dos substantivos paroxítonos na junção com o adjetivo. Nem sempre acontece o mesmo com os paroxítonos dissílabos.

VERBOS

A forma afirmativa dos principais tempos. As formas verbais do presente e do passado são as mesmas, a distinção de tempo é realizada pela inserção de expressões de tempo. Há duas classes de verbos: Segue exemplo da primeira. A segunda cujo modelo é ma’enduar (lembrar), não há posição de prefixos, o radical permanece inalterado. Neste caso, os pronomes vêm junto indicando a pessoa.
  

PRESENTE
PRETÉRITO
FUTURO
Ajuká. Mato.
Erejuká. Matas.
Ojuká. Mata.
Orojuká. Matamos.
Iajuká. Matamos.
Pejuká. Matais.
Ojuká. Matam.
Ajuká. Mato.
Erejuká. Matas.
Ojuká. Mata.
Orojuká. Matamos.
Iajuká. Matamos.
Pejuká. Matais.
Ojuká. Matam.
Ajuká-ne. Matarei.
Erejuká-ne. Matarás.
Ojuká-ne. Matará.
Orojuká-ne. Mataremos.
Iajuká-ne. Mataremos.
Pejuká-ne. Matareis.
Ojuká-ne. Matarão.
IMPERATIVO
SUBJUNTIVO
CONDICIONAL
Ejuká. Mata tu.
Pejuká. Matai vós.
Tajuká. Mate.
Terejuká. Mates.
Tojuká. Mate.
Torojuká. Matemos.
Tiajuká. Matemos.
Tapejuká. Mateis.
Tojuká. Matem.
Ajuká-mo. Mataria.
Erejuká-mo. Matarias.
Ojuká-mo. Mataria.
Orojuká-mo. Mataríamos.
Iajuká-mo. Mataríamos.
Pejuká-mo. Mataríeis.
Ojuká-mo. Matariam.

Presente: juká (matar).
Passado: jukaguera (ter matado).
Futuro: jukaguama (ter de matar).
Gerúndio: jukabo (matando).
Particípio passivo: mijuká (matado).

PRONOMES PESSOAIS

Ixé, xe: eu.
Endé, nde: tu, você.
A’e: ele, ela.
Oré: nós (inclusivo).
Iandé: nós (exclusivo).
Pe’ẽ: vós, vocês.
A’e: eles, elas.

PRONOMES POSSESSIVOS

Xe: meu, minha / meus, minhas.
Nde ou ne: teu, tua / teus, tuas.
I: seu (dele), sua (dela) / seus, suas.
O: seu próprio, sua própria / seus próprios, suas próprias.
Oré: nosso, nossa / nossos, nossas (inclusivo).
Iandé: nosso, nossa / nossos, nossas (exclusivo).
Asé: nosso, nossa / nossos, nossas (universal).
Pe: vosso, vossa / vossos, vossas.

PRONOMES DEMONSTRATIVOS

Ã, Ang: este, esta. Próximo e fora da vista.
Kó: este, esta. Próximo e visível.
Ebokuéi: esse, essa. Perto da pessoa com quem se fala e visível.
Kuéi: aquele, aquela. Distante e visível.
Akuéi: aquele, aquela. Distante, ausente e fora da vista.
Aipó: aquele, aquela. Invisível.

INTERROGATIVOS

A interrogação se faz com a partícula –PE.

Abá suí-pe: de quem?
Abá supé-pe: para quem?
Abá-pe: quem?
Mamõ suí-pe: de onde?
Mamõ-pe: onde?
Mba’é-pe: o que?
Umã-pe: onde?

POSPOSIÇÕES

Na língua tupi as preposições são posposições. Elas são usadas após os nomes.

Mo, ou bo: por, pelo, pela.
Me, ou pe: por, ao.
Supé: a, ao, para e também, em busca de, contra (contrariamente).
Sosé: mais do que, por cima, em cima, sobre, em cima de.
Tobaké, ou obaké: em presença de, diante de.
Suí: de, do, da.
Supi, upi, rupi: como, com, segundo, conforme.
Pyri: perto de, junto de, com, para, em, a.
Resé: por causa de, com, por, pelo.
Pupé: em, com, dentro de, no meio de, entre.
Riré, ré, roiré, iré: depois de, em seguida, depois que.


CONJUNÇÕES

As conjunções mais comuns:

Abé, bé: e, mais. (Essas possuem outras funções também).
Saê, reme: se, como, porque, quando.
Anhê : pois, assim é.
Asui, upité : logo, portanto, assim que.
Te, aé, nde : mas, antes, finalmente, senão, ante.
Koytê : então, depois disto.
Koty, anjé : até, até que.

ADVÉRBIOS

Akuéipe: ali.
A’epe: lá.
Iké: aqui.

PREFIXOS E SUFIXOS

É importante para o estudante saber isolar o radical da palavra porque a língua tupi trabalha como muitos afixos.

I - PREFIXOS

MO- / MBO-. Sema: sair Mosema: fazer sair, enxotar. Akuba: quente Moakuba: aquecer.
RO- / NO-. Sema: sair Nosema: sair com, retirar. Kera: dormir rokera: dormir com.
PORO- / MORO-. Sema: sair. Morosema: sair ou saída de gente. Pysyka: panhar poropysyka: apanhar gente. Ausuba: amar morausuba: amar os outros, amor.
T- / S-.  Obá: rosto. Tobá: rosto de gente. Sobá: rosto de coisa (animal).
NHE- / NHO- / MI- / MBI-. Mima: esconder Nhemima: esconder-se. Nhomima: esconderem-se. Moúba: acomodar. Nhemoúba:acomodar-se. aussuba: amar. Nhoaussuba:amarem-se (uns aos outros). Ú: comer mbiú:comido. mboé:ensinar mimboé:ensinado.

II – SUFIXOS

-SARA / -ARA.  Confere a ideia de agente à raiz.  Tym: enterrar. Tymbara: O que enterra. Potara: querer. Potasara:o que quer.
-BORA / -PORA. Kanhema: fugir. Kanhembora: fujão.
-SABA / -ABA. Tyma: enterrar. Tymbaba: Lugar de enterrar. Juká: matar. Jukasaba: ação de matar.
-SUARA / -SUERA. Pope: N a mão. Popesuara: o que está nas mãos. Guatá: andar. Guatasuera: o que anda.
- TYBA. Arasá: araçá. Arasatyba: araçazal.
-RAMA / -AMA. Mena: marido. Menama: futuro marido.
-PUERA / -UERA. Mena: marido. Menduera: o que foi marido.
-PYRA. Jukapyra: morto. Jukapyrama: o que será morto.
- E’YMA.
Privação. Poranga: belo. Porange’yma: desprovido de beleza.



REFERÊNCIAS

ANCHIETA. José de. Arte de Gramática da Língua mais usada na Costa do Brasil. São Paulo: Loyola, 1990.

NAVARRO, Eduardo de Almeida. Método Moderno de Tupi Antigo. São Paulo: Global, 2005.

DI MAURO, Joubert. Curso de Tupi Antigo. Disponível em: http://www.painet.com.br/joubert/cursotupiantigo.html. Acesso em: 19. jul. 2013.

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